Durante lançamento da live, Romi Bencke, secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), disse que a campanha era uma boa oportunidade para a autocrítica.
“São as mulheres negras, as mulheres indígenas as que mais cotidianamente são atingidas pelos fundamentalismos. É um fundamentalismo que tem base religiosa, mas que também é político, econômico, racista e patriarcal. Infelizmente, no continente latino-americano têm se manifestado por uma matriz religiosa cristã. Então, para nós cristãs e cristãos, essa campanha serve como chamado à autocrítica, mas não uma autocrítica momentânea, uma autocrítica permanente. Será que nos identificamos realmente que a fé em Jesus Cristo seja associada com atitudes de racismo, de violência, de exclusão, de apedrejamento público? Será que isso mesmo que nós queremos?”.
Missionários em territórios de indígenas isolados?
O governo federal, o governo de Jair Bolsonaro realizou 16 vetos para impedir que as populações indígenas e quilombolas tivessem acesso a água, alimento e recursos de saúde, mas garantiu que missionários cristãos continuassem em território indígena, principalmente dos indígenas que vivem em isolamento. Uma posição absurda dessa é impacto direto do fundamentalismo, porque o fundamentalismo ele mata, agride, ele é de ódio.
Jesus não prega violência ou ódio!
A fé em Jesus Cristo não nos alinha a projetos fundamentalistas e violentos, ao contrário: a fé em Jesus Cristo nos liberta desses projetos, porque nos liberta para amar. E ela nos dá discernimento e capacidade para compreender que toda a ação violenta e de ódio praticada em nome de jesus cristo na verdade é anticristão. A grande questão que a gente precisa problematizar não é a fé em Jesus Cristo, mas o que a gente precisa problematizar é um projeto de cristandade – um projeto de uma cristandade aliada ao poder. Então esses partidos políticos que se caracterizam por pertenças religiosas, essas representações políticas que também estão no judiciário e em tantas esferas públicas e que dizem atuar em nome da fé. Aí é onde está o problema: quando a religião se vincula com o poder. Mas a fé em Jesus Cristo, ao contrário, ela critica esse tipo de aliança, porque a fé em Jesus Cristo é uma fé que critica essas estruturas de poder. Então a gente precisa ter essa capacidade de diferenciação.
Você vai atirar a primeira pedra?
Para nós cristãos e cristãs, de que lado nós estaríamos? De que lado nós estamos? Recuperando a história de João 8, da mulher que seria apedrejada, nós estamos ao lado daquelas pessoas que iriam jogar a pedra? Nós estamos junto com a mulher? De que lado nós estamos? De uma mulher que foi falsamente acusada de adultério, embora muitos homens cristãos insistam nas hermenêuticas patriarcais e digam que ela era adúltera – mas não se tem como provar isso! Nós mulheres, ao longo da história, sempre sofremos falsas acusações. E provavelmente essa mulher também sofreu uma falsa acusação. Ela se livrou do apedrejamento, mas aqui no Brasil as mulheres não têm se livrado dos apedrejamentos. Elas têm cotidianamente sido apedrejadas em nome da fé, por falsas acusações. Então essa campanha é um chamado a nós, cristãos e cristãos a autocrítica e a exercitar a nossa capacidade de escuta.