Lançada a Campanha contra fundamentalismos religiosos
Tire os fundamentalismos do caminho é uma campanha lançada por organizações feministas e entidades religiosas – cristãs, afro-brasileiras e indígenas para conter os efeitos nefastos do fundamentalismo religioso.
Os fundamentalistas são religiosos que, munidos da Bíblia, pregam uma palavra venenosa, distorcida e manipuladora. São fanáticos e suas igrejas tem milhões de seguidores porque seu Deus é o dinheiro, é o poder. Queremos os fundamentalismos fora do caminho da vida das mulheres e das crianças. Queremos crianças de 10 anos brincando seguras inclusive no que lhes é mais íntimo.
A campanha tem como objetivo alertar a sociedade brasileira sobre o avanço dos fundamentalismos e o risco que isso representa à vida das mulheres. A ação também tem como finalidade reafirmar a importância da pluralidade de crenças e apontar caminhos e práticas que levem à uma cultura de respeito e de valorização da diversidade.
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O espírito sagrado habita a terra e está conosco
O fundamentalismo sempre esteve presente na história desse país aniquilando nossos povos tradicionais e populações indígenas. E agora ele foi declarado, publicizado. No entanto, nós não estamos sozinhas, estamos com nossos ancestrais, nossos antepassados, nossos espíritos sagrados, nós estamos com nossos rios, nossas águas, nossas serras, nossas pedra, toda a nossa harmonia que os nossos antepassados nos ensinaram estão conosco.
Pessoas de candomblé estão sendo impedidas de vestir roupa branca na sexta-feira
Como podemos admitir que hoje fundamentalistas associados inclusive ao narcotráfico possam impedir que uma pessoa de candomblé não vista roupa branca na sexta-feira? Que possa impedir que estejamos dentro de uma comunidade ou um bairro? Pois é isso que nós, mulheres e homens de terreiro vivemos em desvantagem no Brasil! As mulheres negras são as mais atingidas pelo fundamentalismo, manifestado através do racismo e suas ferramentas estruturantes para a manutenção dos privilégios brancos. Vera Baroni, fundadora da Rede de Mulheres de Terreiro de Pernambuco e integrante da AMNB, explica como o fundamentalismo se transformou numa política que impacta a fé, a memória e a matriz identitária da cultura negra brasileira.
Um chamado à autocrítica cristã
Missionários em territórios de indígenas isolados?
O governo federal, o governo de Jair Bolsonaro realizou 16 vetos para impedir que as populações indígenas e quilombolas tivessem acesso a água, alimento e recursos de saúde, mas garantiu que missionários cristãos continuassem em território indígena, principalmente dos indígenas que vivem em isolamento. Uma posição absurda dessa é impacto direto do fundamentalismo, porque o fundamentalismo ele mata, agride, ele é de ódio.
Jesus não prega violência ou ódio!
A fé em Jesus Cristo não nos alinha a projetos fundamentalistas e violentos, ao contrário: a fé em Jesus Cristo nos liberta desses projetos, porque nos liberta para amar. E ela nos dá discernimento e capacidade para compreender que toda a ação violenta e de ódio praticada em nome de jesus cristo na verdade é anticristão. A grande questão que a gente precisa problematizar não é a fé em Jesus Cristo, mas o que a gente precisa problematizar é um projeto de cristandade – um projeto de uma cristandade aliada ao poder. Então esses partidos políticos que se caracterizam por pertenças religiosas, essas representações políticas que também estão no judiciário e em tantas esferas públicas e que dizem atuar em nome da fé. Aí é onde está o problema: quando a religião se vincula com o poder. Mas a fé em Jesus Cristo, ao contrário, ela critica esse tipo de aliança, porque a fé em Jesus Cristo é uma fé que critica essas estruturas de poder. Então a gente precisa ter essa capacidade de diferenciação.
Você vai atirar a primeira pedra?
Para nós cristãos e cristãs, de que lado nós estaríamos? De que lado nós estamos? Recuperando a história de João 8, da mulher que seria apedrejada, nós estamos ao lado daquelas pessoas que iriam jogar a pedra? Nós estamos junto com a mulher? De que lado nós estamos? De uma mulher que foi falsamente acusada de adultério, embora muitos homens cristãos insistam nas hermenêuticas patriarcais e digam que ela era adúltera – mas não se tem como provar isso! Nós mulheres, ao longo da história, sempre sofremos falsas acusações. E provavelmente essa mulher também sofreu uma falsa acusação. Ela se livrou do apedrejamento, mas aqui no Brasil as mulheres não têm se livrado dos apedrejamentos. Elas têm cotidianamente sido apedrejadas em nome da fé, por falsas acusações. Então essa campanha é um chamado a nós, cristãos e cristãos a autocrítica e a exercitar a nossa capacidade de escuta.